Nota de prensa: A MATERNIDADE NA COMUNICAÇÃO POLÍTICA
En las siguientes líneas compartimos un artículo de prensa de nuestra Vicepresidenta Luciana Panke y su equipo.
A MATERNIDADE NA COMUNICAÇÃO POLÍTICA
Renata Albuquerque
Matheus Trevisan
Na atual legislatura da Câmara de Deputados do Brasil, apenas 15% das parlamentares são mulheres. Se a falta de representatividade de gênero no legislativo brasileiro impressiona, é ainda mais surpreendente o fato de que o referido número representa um aumento de 50% em relação à legislatura anterior, de acordo com dados da própria Câmara[1]. Dilma Rousseff foi a primeira e única mulher a assumir a presidência do Brasil (2011-2014 e 2015-2016), e foi afastada do seu cargo em 2016 depois de um turbulento e controverso impedimento. Hoje, no Brasil, apenas 3 governos estaduais (dentro os 27 da federação) são comandados por mulheres, sendo que duas delas assumiram recentemente após a renúncia dos governadores eleitos.
A chegada de mulheres aos espaços de poder extrapola a questão da representatividade e expõe o machismo estrutural das nossas instituições de várias outras formas. É nesse contexto em que se revela, cada vez mais, a permeabilidade das instituições políticas brasileiras à violência política de gênero e o despreparo desses ambientes para tratar de questões relativas à vida das mulheres, como é o caso, por exemplo, da maternidade.
O aumento da participação de mulheres mães na política institucional e as dificuldades que elas têm enfrentado em sua atuação lançam nova luz sobre o modo em que a atividade política institucional historicamente se beneficiou da invisibilização das tarefas de cuidado, antes relegadas às pessoas que não eram consideradas protagonistas desses espaços. Enquanto uns faziam política, outras – as mulheres – gestavam, pariam, amamentavam e cuidavam das crianças. Não é mais dessa forma, entretanto, que esperamos que essas atividades se distribuam na sociedade.
Até pouco mais de 5 anos o Senado Federal brasileiro não contava sequer com banheiro feminino, tamanha a confiança, forjada pelo machismo estrutural, de que as mulheres não estariam lá. Quando olhamos para mulheres mães, a percepção institucional sobre a incompatibilidade entre o trabalho na política e o trabalho reprodutivo é ainda mais evidente. Até o início deste ano de 2022, os painéis de votação da Câmara dos Deputados do Brasil não acusavam a licença-maternidade de parlamentares que estivessem usufruindo desse direito, indicando, nesses casos, que a política em questão estava “ausente”, sugerindo negligência no cumprimento das suas atividades[2]. Ainda neste ano, chamou a atenção da imprensa brasileira que Cinthia Ribeiro (PSDB), a prefeita da cidade de Palmas (TO) tenha tido de cumprir agenda política e retomar suas atividades profissionais apenas 10 dias após ter dado à luz seu filho – a legislação municipal não previa a licença-maternidade no caso do executivo da cidade[3].
A dupla jornada à que as mulheres mães são submetidas é uma dimensão bastante conhecida da nossa sociedade, e que se reapresenta de forma específica diante da intensa agenda de compromissos públicos e das horas de trabalho pouco convencionais de mulheres eleitas. No caso da comunicação política que se organiza ao redor e a partir do trabalho e da vida dessas mulheres, algumas questões chamam a atenção.
A exposição da rotina familiar de mulheres eleitas, por exemplo, é um tema espinhoso e exige reflexões cuidadosas sobre o uso da maternidade como insumo da comunicação política. Há, também, a questão da exposição da imagem das crianças. Como articular a narrativa pessoal e política da maternidade? Como construir a prestação de contas cotidiana do trabalho político se ele, na prática, é todo atravessado por tarefas de cuidado? Se as redes sociais tornaram baixo o muro que separa a esfera pública e particular das figuras políticas, a maternidade vem para implodir qualquer separação que restasse.
Imagens do parto são trazidas a público para suscitar debates, confortar e disputar consciências. O tema do aleitamento materno, da introdução alimentar, do cumprimento do calendário de vacinação, da vida escolar, da sobrecarga e culpa materna e da importância das redes de apoio à mãe e às crianças são debatidos com o público/eleitorado a partir da experiência pessoal das políticas eleitas. Há, evidentemente, oportunidade de conexão direta com o eleitorado feminino e de tratamento desses assuntos historicamente agendados como privados/familiares, agora, do ponto de vista das políticas públicas
COMO INSERIR A MATERNIDADE NA COMUNICAÇÃO POLÍTICA?
Algumas pistas podem ajudar a conduzir estratégias de comunicação política de mulheres mães, de forma a engajar o eleitorado de forma crítica e atenta à relevância pública da maternidade:
● Compreender que figuras públicas mães não sofrem mais do que mães anônimas.
● Reconhecer e legitimar a diversidade de possibilidades de maternar. ● Desconstruir a ideia de mãe “super-heroína”. ● Utilizar a maternidade como oportunidade para estabelecer pontes com mães e puérperas distantes da política ● Divulgar e fortalecer o trabalho de doulas, coletivos de maternidade, profissionais de saúde, defendendo a integralidade da assistência de saúde às mães e bebês. ● Localizar os desafios da maternidade diante de agendas de políticas públicas ● Levantar reflexões sobre a paternidade ● Dar visibilidade para a importância da rede de apoio à criança e à mãe, reconhecendo a capacidade de órgãos públicos (como escolas e postos de saúde) cumprirem esse papel. |
[1]https://www.camara.leg.br/noticias/550935-bancada-feminina-na-camara-sera-composta-por-77-deputadas-na-nova-legislatura/, acesso em 10 de maio de 2022.
[2]https://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/2021/08/briga-de-samia-bomfim-pra-que-camara-pare-de-ler-licenca-maternidade-como-falta.html, acesso em 26 de maio de 2022.
[3] https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2022/04/10/sem-direito-a-licenca-maternidade-prefeita-de-palmas-improvisa-quarto-para-o-filho-na-prefeitura.ghtml?utm_source=share-universal&utm_medium=share-bar-app&utm_campaign=materias, acesso em 26 de maio de 2022.